segunda-feira, 28 de março de 2022

Aos que virão depois de nós...

 

Imagem obtida em Colégio Reggio Emilia



AOS QUE VIRÃO DEPOIS DE NÓS...


...pensem em nós com um pouco de compreensão.




domingo, 27 de março de 2022

SBSI - Povo Saharaui – Frente Polisário

 



Sahara Ocidental – SBSI - Povo Saharaui – Frente Polisário - RASD


As expressões contidas no título deste texto de opinião serão difíceis de interpretar por muitos portugueses.


O Sahara Ocidental é um território que faz fronteira com Marrocos, com a Argélia, com a Mauritânia e, através do Oceano Atlântico, com as Canárias. Foi um território ocupado por Espanha que em 1975 entregou uma parte a Marrocos e outra parte à Mauritânia que, no entanto, se retirou cerca de 5 anos depois. Logo em 1975 Marrocos enviou para o território cerca de 400 mil civis e militares em número não determinado.


O SBSI é um Sindicato de Bancários (Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas) que, pelo menos entre 1995 e 1998 apoiou abertamente a luta do Povo do Sahara Ocidental no respectivo órgão de informação sindical e de meios logísticos disponibilizados aos representantes em Portugal. Os diversos textos podem ser consultados nas transcrições que se encontram abaixo.


Povo Saharaui é o nome porque são designados os habitantes do Sahara Ocidental que se estimam em cerca de 500 mil, dos quais se refugiaram, devido à guerra com Marrocos, mais de 180 mil no inóspito deserto da Hamada Tinduf, em território argelino, junto à fronteira do Sahara Ocidental. Muitos procuram entrar em Ceuta com o objectivo de alcançar Espanha e, possivelmente, dirigir-se a algum outro país europeu.


A Frente Polisário (Frente Popular de Liberación de Saguía el Hamra y Río de Oro ) foi criada por volta de 1974 para combater o ocupante Espanhol e, posteriormente, com a cedência do território a Marrocos, prosseguiram a luta contra o invasor Marroquino tornando-se num exército apto às necessidades da luta.


RASD é a abreviatura de República Árabe Saharaui Democrática, também vulgarmente designada por República Saharaui, cuja criação é a finalidade última porque se bate a Frente Polisário e que já é reconhecida por cerca de 70 países.


UM POUCO DE HISTÓRIA

A luta deste Povo pela auto-determinação e independência obriga-o a viver numa situação de guerra, com todas as consequências físicas e psicológicas resultantes de uma guerra que já dura à 47 anos e em que o expoente mínimo visível é o medo das crianças que são maltratadas de irem à escola.

O que faz correr Marrocos? O Sahara Ocidental dispõe das maiores reservas de fosfatos (que já são controladas por Marrocos), além de cobre, urânio e ferro, existem fortes indícios de que haverá petróleo e gás natural. A costa atlântica é rica em pescado.

O chamado Plano de Paz, com a intervenção da ONU, foi aceite pela Frente Polisário e em que se previa um referendo em Outubro de 1995 com a retirada do exército marroquino até à data do referendo. Esta situação não se verificou, o referendo nunca teve lugar e em 2007 Marrocos propõe a autonomia do Sahara com condições que afastavam totalmente a independência do Sahara Ocidental. A Frente Polisário repudiou a proposta

Uma análise / Estudo do processo de auto-determinação pode ser acedido AQUI


ACTUALIDADE

HÁ UNS DIAS ATRÁS A ESPANHA QUE SE TINHA MANTIDO NEUTRAL NESTE CONFLITO (embora seja a potencia colonial que fugiu às responsabilidades, enquanto tal ,entregando o Sahara Ocidental a Marrocos e à Mauritânia) VEIO CONCORDAR COM A PROPOSTA DE MARROCOS DE 2007.

Esta decisão (de parte) do Governo de Espanha foi surpreendente e é inexplicável, levando a que o parceiro no Governo (o Podemos) se distancie da decisão e que manifestações de repúdio se verifiquem em Madrid.

É evidente que estando as atenções concentradas na guerra que está a acontecer na Ucrânia passe despercebido este atentado às legitimas e legais aspirações do Povo Sarahaui.

Numa mensagem (abaixo transcrita integralmente) dirigida ao X Congresso da Frente Polisário, Xanana Gusmão, então líder da FRETILIN, escrevia:

Foram poucos os dias que separaram a invasão e ocupação da República Árabe Saharaui Democrática por Marrocos e a Mauritânia e a invasão e ocupação de Timor Leste pela Indonésia. As táticas utilizadas foram diferentes, a estratégia a mesma: submeter povos e territórios de pequena dimensão, expandir fronteiras e enriquecer através da exploração dos ricos recursos que as nossas Pátrias detêm.

A história dos nossos dois povos partilha ainda outro elemento comum. São as mudanças políticas profundas nas potências que nos colonizaram que abriram espaço de manobra para que se efectivassem as ocupações militares assassinas que ainda vivemos.”



TEXTOS RETIRADOS DE “O BANCÁRIO”

(Órgão de comunicação sindical do SBSI


SOLIDARIEDADE COM O POVO SAHARAUI

Esteve em Portugal o Dr. Mafond Ali Baiba, membro da Comissão Política da frente Polisário e enviado pessoal do seu Secretário Geral, Mohamed Ablaziz.

Antigo Primeiro Ministro da RASD e actual Ministro da Saúde do Povo Saharui, o Dr. Mafond é membro fundador da Frente Polisário.

Por iniciativa do Comité Português de Apoio ao Povo Sarahaui, realizou-se, na sede do SBSI, um encontro entre aquele dirigente histórico, o representante da sua organização em Lisboa, Andalla Sidaty, e a Direcção do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, representada pelo seu Vice-Presidente, Sebastião Fagundes e por Wanda Guimarães, Paulo Alexandre e António Coimbra.

O Dr. Mafond Ali Baiba, que está de visita a vários países da Comunidade Europeia, deu uma circunstanciada informação sobre o desenvolvimento do processo de paz em curso no Sahara Ocidental que prevê, antes da realização de eleições, um referendo até Outubro.

De Junho a Outubro proceder-se-à à retirada do exército marroquino. Neste momento procede-se à identificação da população que participará no referendo.

Em Junho, terá ligar o Congresso da Frente Polisário, que definirá a estratégia para o futuro.

1995 será o ano decisivo para o Povo Saharaui.

Aquele dirigente africano considerou serem muito importantes as futuras relações com os países do Sul da Europa e lembrou alguns interesses comuns com Portugal, nomeadamente no sector da pesca, não deixando de recordar algumas semelhanças entre a luta desenvolvida pelo seu povo e a desenvolvida pelo povo Maubere.

Sebastião Fagundes, em nome da Direcção, afirmou que sendo o Sindicato uma organização independente dos partidos políticos e do Estado, não é de modo algum, uma organização apolítica ou alheia aos acontecimentos políticos que o rodeiam a nível nacional e internacional.

O nosso Sindicato tem tomado, por várias vezes, posições públicas de apoio e solidariedade com povos que lutam pela sua autodeterminação e independência. Tal aconteceu em relação ao Povo de Timor Leste, cuja luta tem, de facto, alguns pontos semelhantes com a do povo sarahaui”, afirmou o Vice-Presidente da Direcção.

Fazendo votos para que o processo de paz e de independência seja uma realidade, os dirigentes sindicais prometeram a solidariedade desejada e dispuseram-se a colaborar no campo cultural e social e para o desenvolvimento das relações com o povo sarahui.

(Em “O BANCÁRIO” de 28 de Fevereiro de 1995)



REFERENDO NO SAHARA OCIDENTAL EM PREPARAÇÃO

0 representante da Frente Polisário em Portugal, Andalia Sidaty, esteve, uma vez mais, em contacto com a Direcção do Sindicato dos Bancários do Sul e lhas. Desta veio veio dar-nos notícias sobre a organização do referendo a realizar no Sahara Ocidental, com vista à independência do Povo Saharaui.

No sentido de acelerar o processo, nomeadamente no que respeita à elaboração de regras para a realização do referendo, o Conselho de Segurança das Nações Unidas decidiu enviar àquele território uma Missão, composta por representantes da Argentina, do Botswana, da França, das Honduras, de Oman e dos Estados Unidos da América do Norte.

Neste momento. pretende-se resolver problemas tão importantes como a diminuição da presença militar marroquina no território, o acantonamento das forças da Frente Polisário, a libertação de presos políticos, a troca de prisioneiros de guerra e o regresso de refugiados.

A data para a realização do referendo não deverá ultrapassar o mês de Janeiro de 1996.

(Em “O BANCÁRIO” de 2 de Julho de 1995)



APELO DA AMNISTIA INTERNACIONAL

Kelthoum Ahamed Labid EL-QUANAT (prisioneira política)

(Marrocos/Sahara Ocidental)

Kelthoum Ahamed Labid EL-QUANAT, uma, mulher de 24 anos, oriunda de Smara (Sahara Ocidental), está detida na prisão militar de Ben Seargaou, perto de Agadir (Sul de Marrocos), a cumprir uma pena imposta, em Julho de 1993, pelo Tribunal Militar marroquino.

Em Outubro de 1992, foi, presa com mais quatro companheiros, por ocasião das manifestações de protesto que se realizaram simultaneamente em Smara e noutras cidades do Sahara Ocidental.

Um grande número de jovens Saharauis (ou mesmo centenas, de acordo com alguns relatórios) foram presos no seguimento de manifestações que tiveram como objectivo apelar à independência do Sahara Ocidental, protestar contra a realização de eleições parlamentares marroquinas no Sahara Ocidental e exigir a libertação de saharauis presos e “desaparecidos”.

Kelthoum Ahamed Labid EL-QUANAT foi presa no dia 10 de Outubro de 1992, no gabinete do Governador de Smara, onde se tinha apresentado com o seu pai, em resultado de uma intimação que recebera no dia anterior. Depois da sua prisão esteve incomunicável, durante 10 meses, sem qualquer contacto com o mundo exterior, inclusivamente com a sua família, sem acesso a cuidados médicos ou assistência jurídica.

Neste período foi alegadamente espancada, torturada e violada. Foi julgada a 29 de Julho de 1993, pelo Tribunal Militar de Rabat (Marrocos) , com mais 5 jovens que se encontravam entre os presos do dia 8 de Outubro, devido às manifestações, e ainda outros dois que tinham sido presos em Maio de 1993. Todos eles foram mantidos incomunicáveis até ao dia do julgamento, isto é, vários meses.

Kelthoum e os 5 jovens (mais um julgado à revelia) foram acusados de ameaçarem a segurança externa do Estado; além disso, Kelthoum e os 3 jovens presos em Outubro foram ainda acusados de lançarem fogo à propriedade do Estado. Nem Kelthoum, nem os os outros réus, foram autorizados a estabelecer qualquer contacto com as respectivas famílias, nem tão pouco tiveram acesso a um advogado antes do julgamento, bem como não lhes permitiram exercer o direito de escolherem os seus advogados de defesa. O julgamento no Tribunal Militar de Rabat, realizou-se à porta fechada, no dia 29 de Julho de 1993, e nem a família de Kelthoum, nem as famílias dos outros réus foram autorizadas a assistir.

Kelthoum foi condenada com base num relatório da policia, que ela negou em tribunal, alegando ter sido forçada a assiná-lo sob tortura e injúrias físicas. Os outros réus também alegaram que tinham sido torturados e rejeitaram os relatórios policiais que tinham assinado. No entanto o tribunal não ordenou qualquer investigação no seguimento das queixas, não as tendo levado em consideração. Kelthoum e os outros presos foram condenados a 20 anos de prisão com base nas acusações já referidas.

A acusação de ameaça à segurança externa do Estado baseou-se no conhecimento ou suspeita de apoio à Frente Polisário (Frente para a Libertação de Saguia El Hamra e Rio de Oro).

Não foi apresentada nenhuma prova quer consubstanciasse as acusações contra Kelthoum e os outros 3 réus acusados de terem lançado fogo a propriedades do Estado, a não ser os relatórios da polícia que os acusados afirmaram terem sido extraídos sob tortura.

Na altura das manifestações em Samra e outras cidades do Sahara Ocidental as autoridades marroquinas assumiram a realização das manifestações, mas afirmaram que tinham sido manifestações de protesto contra a situação social e económica, e não manifestações de carácter político.

Não existem quais quer relatórios (das autoridades marroquinas ou outras) sobre os réus terem lançado fogo seja ao que quer que fosse.

A Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSO), estabelecida no Sahara Ocidental, também não confirmou que tivesse ocorrido qualquer acto de violência.

Face ao exposto e baseado na sua própria investigação, a Amnistia Internacional considera que Kelthoum Ahamed Labid EL-QUANAT e os que se encontram presos cm ela, como prisioneiros políticos, encarcerados apenas em razão das suas convicções, e apela para a sua libertação imediata e incondicional.

(Em “O BANCÁRIO” de 15 de Maio de 1996)


Kelthoum Ahmed Labid EI-OUANAT

e

cinco outros prisioneiros enfim libertados

O Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas associa-se ao regozijo da Amnistia Internacional quanto à recente Libertação de Kelthoum Ahmed Labid EL-QUANAT e de mais cinco prisioneiros políticos do Sahara Ocidental. Como o leitor certamente estará recordado, «O Bancário» juntou a sua voz a tantos outros, numa vasta campanha internacional, noticiando a história desta mulher de 24 anos e dos outros jovens prisioneiros políticos. Todos condenados a 20 anos de prisão por um tribunal militar marroquino. Presos entre Outubro de 1992 e Maio de 1993, no seguimento de manifestações a favor da independência realizadas em várias cidades do Sahara Ocidental, foram acusados de atentarem contra a segurança externa do Estado. Torturados e remetidos a um total isolamento, foram condenados por um processo julgado iníquo.

"A libertação destes prisioneiros políticos constitui uma etapa importante e encorajadora para uma melhoria sensível da situação dos direitos da pessoa humana no Sahara Ocidental", declarou a Amnistia Internacional.

Esta Organização espera que outras medidas sejam rapidamente tomadas pelas autoridades marroquinas para que a situação dos direitos da pessoa humana continuem a melhorar no Sahara Ocidental. No entanto, a Amnistia Internacional continua preocupada, nomeadamente, com o destino de centenas de pessoas que desapareceram, depois de terem sido presas, na década de 70, e das quais nunca mais houve notícias.

(Em “O BANCÁRIO” de 15 de Junho de 1996)


GRUPO DE SOLIDARIEDADE COM O POVO SARAHAUI

APELA AO RESPEITO PELO PLANO DE PAZ DA ONU

Barbosa de Oliveira e Sebastião Fagundes integram Conselho de Honra

Dezenas de personalidades da vida política e cultural portuguesa, reunidas, no Auditório Municipal da Amadora, em 25 de Junho, a convite do Eng Orlando de Almeida, Presidente da Edilidade, constituíram um Grupo de Solidariedade com o povo do Sahara Ocidental, antiga colónia espanhola do Magrebe ocupada por Marrocos desde 1975.

A iniciativa surge num momento em que o Plano de Paz para o território, elaborado pelas Nações Unidas, caiu num perigoso impasse, fazendo temer o regresso à guerra naquela região do Norte de África.

Criticando a falta de firmeza da ONU perante as exigências de Marrocos, o Grupo de Solidariedade apela às autoridades portuguesas para que desenvolvam iniciativas junto do rei Hassan II e dos seus parceiros europeus, com vista ao estabelecimento do diálogo directo entre as partes e à criação de um clima de confiança que permita ao Povo Saharaui pronunciar-se livremente sobre o seu destino, através de um referendo de autodeterminação.

O Grupo de Solidariedade elegeu para a sua Presidência de Honra o Brigadeiro Pezarat Correia, e inscreveu como objectivos prioritários no seu plano de actividades a informação da opinião pública sobre a evolução do processo de aplicação do Plano de Paz da ONU.

O Grupo de Solidariedade com o Povo Sarahui é constituído por personalidades da vida política e cultural. Barbosa de Oliveira e Sebastião Fagundes, respectivamente Presidente e Vice-Presidente do SBSI, integram o Conselho de Honra, de que fazem parte, também, o Marechal Costa Gomes, O eng António Abreu – Vereador da Câmara Municipal de Lisboa, o Maestro António Vitorino, Carvalho da Silva – Coordenador da CGTP-IN, o Dr. Fernando Nobre – Presidente da AMI, Isabel de castro – Deputada do partido Ecologista Os Verdes, Joaquim Piló – Presidente do Sindicato Livre dos Pescadores, Luís Pedro Martins – Deputado do Partido Socialista, o Eng Luís Cardoso – representante da Resistência Timorense em Portugal, o Dr. Luís Moita – Vice-Reitor da UAL, a Drª Luísa Teotónio Pereira – Presidente do CIDAC, o Major Mário Tomé, Odete Brás – Membro do Secretariado do MDM, o Eng Orlando de Almeida – Presidente da Câmara Municipal da Amadora e Cilas Cerqueira – Professor Universitário.

Manuela Graça (da Direcção do SBSI) e Teresa Resende (MECODEC) integram a Direcção Executiva.

Outros dois objectivos do Grupo de Solidariedade dizem respeito à sensibilização das autoridades nacionais para a necessidade de defenderem e apoiarem o legítimo direito do Povo do Sahara Ocidental à autodeterminação e independência, à semelhança do que acontece como povo de Timor-Leste e ao incentivo e organização de acções de ajuda humanitária que atenuem as muitas dificuldades por que passam os mais de 160 mil refugiados sarahauis, instalados no inóspito deserto da Hamada Tinduf, em território argelino, junto à fronteira do Sahara Ocidental.

(Em “O BANCÁRIO” de 15 de Julho de 1996)


SINDICATO PRESTA AJUDA HUMANITÁRIA AO POVO SARAUÍ

Na sequência da sua política de solidariedade e justiça, o Sindicato dos bancários do Sul e Ilhas tem concedido uma atenção muito especial ao povo saharauí, especialmente no que se refere a ajuda humanitária e logística, através de facilidades na elaboração de documentação para que aquele povo possa divulgar a sua justa causa

Dessa ajuda faz parte o programa de férias que o Sindicato tem proporcionado a crianças provenientes dos territórios sarauís e que, deste modo, podem gozar férias diferentes, muitos pela primeira vez, conjuntamente com os filhos de associados, num convívio que tem sido muito frutuoso, tanto para essas crianças, como para as piortuguesas que as acompanham e que, assim, têm possibilidade de conviver com outra civilização que, afinal, ainda tem alguma familiaridade com os portugueses do tempo da expansão marítima.

Sobre este programas do nosso Sindicato, Hady Laroussi, representante da Frente Polisário em Portugal, referiu-se a “O Bancário” de forma muito elogiosa, considerando que se trata de um intercâmbio de culturas, que muito contribuem para o desenvolvimento da juventude do seu povo e que também pode trazer algumas experiências diferentes para os filhos de bancários portugueses, com que elas convivem.

GRANDE ESPERANÇA NO REFERENDO

Actualmente numa fase de transição da guerr apara a paz, a Frente Polisário conseguiu que o estado de conflito existente nas suas relações com Marrocos se encontre numa situação de “stand by” para desenvolver o referendo que terá lugar durante o próximo ano. O que se considera uma primeira etapa para uma situação de paz definitiva e que afinal é a grande aspiração do povo sarauí.

Esta situação é tanto mais premente quanto é verdade que neste momento, a situação nacional se encontra bastante precária, com o povo a viver em acampamentos de refugiados e a sobreviver graças à ajuda internacional e ao contributo de ONG´s (Organizações Não Governamentais) que se têm esforçado para que a situação de dificuldades que neste momento está evidente possa evoluir para um estado de autosuficiência económica e política.

Sobre o futuro, Hady Laroussi disse a “O Bancário” que espera que as relações com Marrocos sejam amistosas, dado que o povo sarauí nada tem contra o povo marroquino, ao mesmo tempo que espera um desenvolvimento dos laços de Portugal com o povo sarauí, com uma grande transparência de intenções e o contacto com ONG’s nacionais.

Por sua parte, o Sindicato vai continuar a apoiar a acção da delegação em Portugal do povo sarauí, contribuindo, assim, à sua maneira, para a paz e concórdia na região.

(Em “O BANCÁRIO” de 15 de Dezembro de 1997)


PRESIDENTE DO PARLAMENTO SAHARAUI

RECEBIDO NA SEDE DO SINDICATO

Abdel Cader Talep Omar, presidente do parlamento da República Árabe Saharuí Democrática esteve em Portugal para dar conhecimento da evolição do processo de independência do povo do Sahara Ocidental. Abdel Omar, membro fundador da Frente Polisãrio e da sua Direcção, foi recebido por Delmiro Carreira e Sebastião Fagundes na sede do SBSI.

Começando por agradecer a colaboração prestada pelo SBSI às iniciativas da Frente Polisário em Portugal e do acolhimento dado a um grupo de crianças e jovens do seu País,Abdell Omar teceu algumas considerações sobre a situação actual das relações com a Mauritânia e Marrocos e do comportamento da ONU em todo o processo preparatório do referendo sobre a independência do povo Saharaui,

O cessar-fogo em visor desde l99l (recorde-se que a luta pela independência

remonta a 19761 tem sido mantido por grande determinação da Frente Polisário em querer resolver politicamente o conflito. Segundo o Presidente do Parlamento da República Saharaui, o Governo de Marrocos não tem correspondido. minimamente,para a resolução do problema. Por sua vez, a própria ONU e os seus mais altos responsáveis não têm mantido o comportamento de isenção que se impõe.

Delmiro Carreira. Presidente do SBSI, reafirmou a disponibilidade do SBSI para continuar a apoiar, dentro das possibilidades estatísticas e das regras de solidariedade,

REUNIÃO COM REPRESENTANTES DA CAUSA SAHARAUI

Promovido pela Associação de Solidariedade e Apoio ao Povo Saharaui, realizou-se um convÍvlo com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa entre o Presidente do Parlamento da República Árabe Saharaui Democrática e vários simpatizantes e membros de organizações que se identificam com a luta do povo Saharaui.

O convívio teve lugar na Sala Cinzenta do SBSI.

Abdel Omar, ladeado por Sebastião Fagundes, Vice-Presidente do SBSI e António Baptista da Silva, membro da Comissão Executiva da Associação, teve oportunidade de, mais uma vez, expor as razoes de uma luta de mais de vinte anos.

Sebastião Fagundes justificou o apoio natural,por parte do SBSI, pelas semelhanças que a luta dos Saharauis tem com a luta do povo mártir de Timor-Leste.

(Em “O BANCÁRIO” de 15 de Janeiro de 1999)


UGTSARIO DESENVOLVE ACÇÃO SINDICAL NUM PAÍS SEM PATRÓES

Ahmed Chia, responsável pelas relações internacionais da UGTSARIO. organização sindical do povo Saharaui, e Faid Yiba, representante adjunto da Frente Polisário em Portugal, foram recebidos pela Direcção do SBSI, representada por Sebastião Fagundes e Fernando Martins, Vice-Presidente e Secretário da Direcção, respectivamente. Num país onde não há patrões, qual o papel das Estruturas Sindicais? Esta era a pergunta lógica a colocar ao dirigente da UGTSARIO.

Ahmed Chia historiou: "em 1975 os trabalhadores foram para a luta armada contra a invasão marroquina.

As mulheres dedicaram-se à organização dos acampamentos, onde tiveram papel determinante. A acção dos dirigentes sindicais passou a ser o de mobilizar os trabalhadores para a luta pela independência. Hoje, as condições são diferentes. A marcação do referendo que levará à independência do Povo Saharaui - é essa a convicção - exige a preparação de uma organização sindical que possa dar resposta às necessidades dos trabalhadores".

A UGTSARIO participa, anualmente, nas comemorações de três datas importantes: o 8 de Março, o 1." de Maio e o 20 de Outubro. Esta última celebra uma acção de sabotagem à exportação de fosfato, principal riqueza do País, por parte dos espanhóis

A visita feita ao SBSI faz parte de uma série de contactos que a UGTSARIO está a desenvolver junto de várias estruturas sindicais no sentido do seu reconhecimento internacional

(Em “O BANCÁRIO” de 01 de Maio de 1999)


TIMORENSE E SAHARAUIS – POVOS IRMÃOS

Xanana saúda povo saharauí

Dias antes do referendo realizado em Timor Leste sobre o destino daquele território, decorria o X Congresso da Frente Polisário. Por mais que uma vez temos notado as semelhanças entre as lutas do povo saharauíe do povo timorense. Isso mesmo é evidenciado na saudação enviada por Xanana Gusmão àquele Congresso:

É com particular honra que tenho o privilégio de me dirigir a todos os nossos Irmãos saharauís!

Foram poucos os dias que separaram a invasão e ocupação da República Árabe Saharaui Democrática por Marrocos e a Mauritânia e a invasão e ocupação de Timor Leste pela Indonésia. As tácticas utilizadas foram diferentes, a estratégia a mesma: submeter povos e territórios de pequena dimensão, expandir fronteiras e enriquecer através da exploração dos ricos recursos que as nossas Pátrias detêm.

A história dos nossos dois povos partilha ainda outro elemento comum. São as mudanças políticas profundas nas potências que nos colonizaram que abriram espaço de manobra para que se efectivassem as ocupações militares assassinas que ainda vivemos.

Por ironia histórica, são igualmente poucos meses que separam a realização de dois actos – o referendo na RASD e a Consulta Popular em Timor Leste – que permitirão aos nossos dois Povos pronunciarem-se sobre o caminho que desejam tomar para o futuro.

O Povo de Timor Leste prepara-se neste momento para votar. Será já na próxima Segunda-feira, dia 30 de Agosto. Apesar de toda a violência, intimidação e terror que tem alastrado em Timor Leste, numa tentativa desesperada dos militares indonésios de bloquear o nosso processo, o Povo de Timor Leste não hesitou em registar-se e preparar as condições para fazer ouvir a sua voz.

Nos últimos meses, os militares indonésios, as suas estruturas de inteligência e os políticos que ainda estão agarrados à ditadura e ao regime imposto por Suharto durante 32 anos, criaram, equiparam e mantiveram grupos de milícias armadas que actuam e assassinam a população indefesa. Nestes dois últimos dias, mais timorenses tombaram e mais sangue foi derramado. Mas, apesar de toda esta guerra armada e psicológica, a população de Timor Leste sairá à rua no dia 30 para ir votar. O Povo de Timor Leste irá fazer ouvir a sua voz, o seu grito pela independência e a liberdade.

Conhecemos os obstáculos, as manobras e as dificuldades que têm sido colocadas ao vosso processo. Pelo mundo fora os representantes da vossa corajosa e determinada Frente Polisário mantiveram sempre um contacto estreito com os representantes de Timor Leste na Diáspora. O vosso processo de referendo foi iniciado no ano em que o mundo “acordou” para o sofrimento do nosso Povo. Foi o conhecimento do vosso processo, do nosso sofrimento, das manobras do ocupante, do jogo de interesses internacionais e de alguns indivíduos, das desilusões consecutivas que o Povo Saharauí teve que viver com os adiamentos do exercício do direito à auto-determinação que muito nos ensinou a conduzir o processo de Consulta Popular em Timor Leste.

Esperamos do fundo do coração, que o processo, a realizar-se um pouco mais cedo que o vosso, possa ser útil ao nosso e, como precedente, evitar qualquer manobra de ulterior adiamento do Referendo na RASD.

Para que o Povo Saharauí possa exercer o seu direito de liberdade e a independência, é fundamental prosseguir e implementar o Plano de Paz.

Aguardamos os resultados deste vosso Congresso histórico. Muito do que estão a debater e aprofundar e a aperfeiçoar, ao nível das instituições de Estado, começamos nós, agora, a debater e a analisar. Também nesta área desejamos partilhar da vossa experiência. Expresso aqui os meus votos muito sinceros de êxito nos trabalhos do X Congresso da frente Polisário.

Os nossos dois Povos ficarão para sempre unidos com tanto que há de partilha de dor e sofrimento, mas também de Resistência e de Vitória.

Não temos dúvidas relativamente ao sentido de escolha dos nossos Povos.

Quase 24 anos de resistência armada e política e social, de perseverança na defesa de uma Pátria, de uma Identidade e de uma Cultura, dão-nos a certeza de que quer a Nação Saharauí, a identidade do vosso Povo, a vossa cultura e língua Hassania, quer a Nação Timorense, a Identidade do nosso Povo, a nossa Cultura e Língua Tetun poderão ser vividas e expressas na Liberdade e Paz. O caminho que vos trouxe até aqui já é irreversível!

Em nome do Povo de Timor Leste, do Conselho Nacional de Resistência Timorense e das nossas valorosas FALINTIL (Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor Leste) apresentando os mais respeitosos cumprimentos e profunda admiração ao Presidente Mohamed Abdelazig e, através de vós, todas e todos os Congressistas, transmito, com emoção, um fortíssimo Abraço ao Povo irmão Saharauí.”

Xanana

(Em “O BANCÁRIO” de 15 de Setembro de 1999)