domingo, 25 de abril de 2021

ALVORADA EM ABRIL - A história por quem a viveu

 

Imagem obtida em “SlidePlayer”

ALVORADA EM ABRIL

CONHECER A HISTÓRIA POR QUEM A VIVEU


Não tinha eu ainda 30 anos quando o Movimento das Forças Armadas desencadeou uma acção militar que acabou em Portugal com o estado a que tínhamos chegado, palavras atribuídas ao Capitão de Abril Salgueiro Maia e proferidas na madrugada do 25 de Abril quando se dirigiu aos camaradas de armas que voluntariamente o seguiram.


A importância do 25 de Abril foi muito mais que uma acção militar corporativa, como alguns pretendem que fosse, esquecendo que o Movimento era suportado politicamente por um Programa elaborado sob a coordenação (ou autoria?) de um outro Capitão de Abril, o Major Melo Antunes.


A história do 25 de Abril é feita através dos mais diferentes relatos, mas, indiscutivelmente, é “Alvorada em Abril”, da autoria de Otelo Saraiva de Carvalho (mais um Capitão de Abril que até era Major), com um prefácio de Eduardo Lourenço que dá uma panorâmica visão do enquadramento político e dos objectivos em que esta acção militar se concretizou.


O prefácio, “Um homem do (nosso) destino”, de Eduardo Lourenço, escrito em 3 de Novembro de 1977, é uma lição de História que assume, muito devido a quem a escreve, uma importância tão grande como os relatos feitos por Otelo Saraiva de Carvalho. Embora seja difícil fazer uma escolha atrevo-me a transcrever um trecho do prefácio do livro:


Estas paginas (as do livro “Alvorada em Abril”) desenham em filigrana o retrato de um Otelo antes de Otelo e completam assim uma imagem que o excesso de franqueza e meemo de ingenuidade política que lhe são inerentes reduziu a um estereótipo insignificante, por simplista e malevolente. Aos que de Otelo Saraiva de Carvalho só já guardam uma imagem estereotipada alheia mas também própria, estas páginas poderão mostrar, para além do percurso colectivo de uma geração de oficiais que as circunstâncias transformaram em “revolucionários”, também a maneira como a História passa através dos seus agentes, como ela se serve mesmo do que sob outros planos pode parecer defeito e disso tudo amassado faz um homem do Destino. Destino seu e destino nosso, qualquer que seja o juízo que o homem público venha a merecer de um futuro que, aliás, continua em marcha


Quem não tiver oportunidade de ler o livro pode sempre, embora não seja a mesma coisa, ver o vídeo de mais de 2 horas, para recordar (os que viveram essa época) o que aconteceu ou (os que nasceram já depois do 25 de Abril) para saberem o que se passou.



Sugere-se que visualize o vídeo em “Ecrã Inteiro”

"clicar” no símbolo localizado no canto inferior direito do vídeo


quinta-feira, 15 de abril de 2021

Estupidez ou ingenuidade?

 

Imagem obtida em “Pensar bem Viver bem”


Estupidez ou ingenuidade?


Para corresponder à decisão dos restantes sindicatos da Febase de não se fundirem no Mais Sindicato bem como à alteração do funcionamento das instituições devido à pandemia de covid-19, a Direção do MAIS apresentou uma proposta de alteração parcial dos estatutos que mereceu a aprovação de uma larga maioria dos conselheiros presentes


A difusão desta informação que pode ser lida no espaço da Internet do chamado MAIS, Sindicato do Sector Financeiro (ver AQUI), merece uma reflexão por parte dos associados.

Para os que lembram e também para os que já não se lembram recordo que na altura da constituição da FEBASE, o que muitos trabalhadores bancários, sócios do SBSI defendiam era a constituição de um Sindicato ÚNICO, constituído, no mínimo, pelos 3 sindicatos bancários de maior representatividade na banca (SBC, SBN, SBSI). Mas, não foi este o entendimento das Direcções dos 3 sindicatos e resolveram constituir a FEBASE, sugerindo, até, que seria um “passo” intermédio necessário para o sindicato ÚNICO. Passo intermédio necessário porque, digo eu que digo coisas, e fazendo um juízo de valor possivelmente errado, os membros das direcções sindicais ainda não estavam disponíveis para abdicar dos cargos que exerciam. A corresponder à verdade este meu juízo de valor, vem o mesmo também demonstrar que o objectivo da constituição da FEBASE de “alicerçar a solidariedade e a unidade entre todos os trabalhadores, desenvolvendo a sua consciência sindical” não foi alcançado, nem sequer entre os dirigentes dos 3 sindicatos dos bancários.

Ainda antes da constituição do MAIS, em 2018, o SBC, SBN e SBSI promoveram referendos autónomos, com perguntas diferentes, em que, na pratica, alargavam o âmbito geográfico de intervenção a todo o território para, segundo o SBSI, poder vir a integrar um Sindicato ÚNICO. A questão, pareceu-me, então, melindrosa, pois podia ser entendida como uma “OPA” hostil aos outros sindicatos. E acabou por o ser relativamente ao SBN, pois os associados recusaram a extinção do seu sindicato.

Não restavam então dúvidas e continuam agora a não existir dúvidas que a “trapalhada” negocial” entre os 3 sindicatos dos bancários contribuiu para mais uma machada no objectivo da constituição da FEBASE de alicerçar a solidariedade e a unidade entre todos os trabalhadores, desenvolvendo a sua consciência sindicalque não foi alcançado, nem sequer entre os dirigentes dos 3 sindicatos dos bancários.

Perante estes dados qualquer dirigente sindical, por muito mau que seja, nunca avançaria para a constituição de um sindicato com vista à unificação dos sindicatos do sector financeiro sem ter a garantia de que todos ou quase todos, a maioria pelo menos, aderiria.

Estúpida ou ingenuamente a maioria (?) dos dirigentes e a maioria dos sindicalistas com assento no Conselho Geral do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas avançaram de “peito feito” para o consentimento político dos Estatutos do MAIS. Gastaram tempo, dinheiro e criaram divisões entre sindicatos do sector (ver AQUI e AQUI).

Tudo isto é agora reconhecido de forma sub-reptícia pelo MAIS quando vem justificar a alteração estatutária proposta ao Conselho Geral pela Direcção com a "decisão dos restantes sindicatos da Febase de não se fundirem no Mais Sindicato." Ou seja, ao invés de só avançarem com a constituição do MAIS depois de terem o acordo de todos ou da maioria dos sindicatos, começaram a construir a casa pelo telhado.

E, por favor, não atirem as culpas para o ex-Presidente da Direcção, Rui Riso, pois a Direcção do Sindicato é um órgão colegial em que as deliberações são tomadas por maioria. Quem na Direcção votou contra?

E, por favor, membros do Conselho Geral, não atirem as culpas para a Direcção do Sindicato, pois o Conselho Geral também é um órgão colegial em que as deliberações são tomadas por maioria. Alguém assume que votou a favor?

E agora, perguntarão os associados do sindicato? Podemos estar de acordo com o diagnóstico, mas qual é o prognóstico? Não tenho (ninguém tem) uma varinha de condão que altere o estado a que o sindicato chegou, mas já em Outubro de 2020 afirmava que “ (…) o momento é de crise e as políticas sindicais da Tendência Sindical Socialista, conjugadas com os seus aliados “TSDs” são de tal forma (como já se comprovou) graves para os trabalhadores que se pode justificar o sacrifício” Que sacrifício? (ver AQUI).

Não serão as iniciativas e opiniões individuais (como esta) que irão mudar este estado de coisas no sindicato. Só de forma colectiva, sem protagonismos exagerados, sem “salvadores da pátria” e com os trabalhadores bancários, nomeadamente os que estão no activo, a mudança desejada e necessária será possível.


quinta-feira, 8 de abril de 2021

REINA A PAZ E A CONCÓRDIA NA BANCA

 

Imagem obtida no blogue “conexasaude”


REINA A PAZ E A CONCÓRDIA NA BANCA


Hoje é um dia em que me sinto feliz. Tudo graças ao “MAIS”, o sindicato de que sou associado desde 2 de Dezembro de 1969, era então Presidente da Direcção Daniel Cabrita.

Tudo começou quando fui à minha caixa de correio buscar a revista “MAIS Bancário” de Março de 2021, propriedade do meu sindicato. Uma bela revista, em “papel couchê”, maravilhosamente brilhante.


Sentei-me e recostei-me no sofá da sala e comecei a desfolhar a revista. E, à medida que ia desfolhando as 36 páginas que a constituíam, ia ficando cada vez mais feliz.

- A revista tem 2 páginas de anúncios, sobrando, portanto 34 páginas para matéria sindical;

- Há também duas páginas dedicadas a passatempos, ficando ainda 32;

- Dessas 32 uma é integralmente dedicada aos sócios que morreram e outra aos sócios (que também morreram) e a cujas famílias foi paga a “lutuosa”, portanto sobram 30 páginas;

- Claro que o editorial, cujo texto caberia em meia página, ocupa uma página e aborda a segurança dos SAMS, sendo da autoria do Presidente da Direcção do sindicato que, ao que para ai se diz, não é beneficiário dos Serviços de Assistência Médico Social (SAMS) por ter optado pelo sistema de saúde dos Serviços Sociais da Caixa Geral de Depósitos. E já só temos 29 páginas;

- Depois, metade de uma página dá a palavra a 2 sócios para agradecerem aos SAMS terem sido muito bem tratados (poderiam dizer que tinham sido mal tratados?) e a outra meia página para para transcrever uma notícia da Lusa sobre a preocupação com as vacinas contra o SARS-COV-2. Ora 29 páginas menos 1, dá 28;

- Segue-se uma reportagem ao longo de 5 páginas sobre o Dia da Mulher, com muitas fotos de um evento que até poderá estar gravado e ser acedido via Internet, poupando-se algum espaço para questões laborais; mas não, logo, às 28 páginas se subtrairmos 5, ficam 23 para as tais matérias laborais;

- Como a Formação é importante nada como uma entrevista. A importância das acções comportamentais, em que se insere “A Gestão de conflitos geracionais em família”, não podia deixar de ocupar 6 páginas, nas quais as fotos no todo ocupam umas 3. Bem, pelas minhas contas temos agora 17 páginas para falar dos problemas dos bancários nos locais de trabalho, o que me parece razoável;

- Foi, porém, também julgado importante (e quem sou eu para discordar!) dedicar 6 páginas aos problemas de saúde específicos da Mulher, o que, de subtração em subtração já só temos 11 páginas disponíveis;

- Mas, a não menos importante notícia divulgada na revista cientifica “JBJS Case Connector”, sobre uma técnica, minimamente invasiva, para o tratamento da instabilidade anterior do ombro, teve honras de 4 páginas, foto e imagens de cariz cientifico que os “mangas de alpaca”, que são os bancários, ansiavam CONHECER AO PORMENOR. E temos agora (talvez chegue para as questões laborais) 7 páginas. Talvez se consiga arranjar espaço para abordar aqueles problemas das horas extraordinárias não remuneradas. O quê?! Já não há horas não pagas!? O horário é escrupulosamente cumprido!? Então as 7 páginas até são demais...

- As questões jurídicas (3 páginas em que se insere uma enorme foto) abordam um tema que me não parece o mais importante no contexto actual mas que, além dos aspectos técnicos (que são importantes, falo a sério) deveria ter um enquadramento político-sindical. E sete, menos 3, dá 4;


Se agora, continuando as nossas contas, retirarmos a capa anterior, a capa posterior e o índice (3 páginas) sobra 1 (UMA) para as questões sindicais.

Pois, foi essa página, precisamente a página 6, da Revista do sindicato, que me fez sorrir de alegria.

SÓ UMA PÁGINA PARA A ACTIVIDADE SINDICAL PROPRIAMENTE DITA. QUE MARAVILHA!!!

Essa página 6 que tem uma foto que ocupa cerca de ⅓ do espaço, uns títulos e um resumo que ocupam outro terço e um texto de fundo, reportando uma situação que atinge os trabalhadores bancários do Santander desde Setembro de 2020, é a ÚNICA referência à actividade sindical propriamente dita na revista do sindicato.

Mas, os “despedimentos” de bancários (são cerca de 2000 em toda a Banca?) do Santander, mencionados na página 6 da Revista, são motivo de sorrisos, de felicidade? NÃO!

O que é motivo de alegria, de felicidade, de satisfação, é saber que vai tudo muito bem no sector bancário ao nível laboral. Se assim não fosse, seguramente a Direcção do meu sindicato encheria as páginas da Revista com análises político sindicais que estão, ou virão a estar, na ordem do dia das preocupações dos trabalhadores. Não o fazendo é porque tudo está bem.

Se apenas UMA notícia de cariz especificamente laboral é inserida num órgão de comunicação do sindicato, isso demonstra, pois não pode ter outro significado!, que na banca não há nada a assinalar, há paz e concórdia, e os trabalhadores (excepto os do Santander, infelizmente, coitados!) estão bem e recomendam-se.

Parabéns à Direcção do Sindicato por esta paz social.

Tenho ou não razões para sorrir e estar feliz?

Ao estado a que isto chegou… Enfim!...


quarta-feira, 7 de abril de 2021

É difícil ser sindicalista nos dias de hoje.

 




Sindicatos. Um equilíbrio em tempos de mudança


A Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou ontem (ver AQUI), dia 6 de Abril, um importante estudo (Sindicatos. Um equilíbrio em tempos de mudança) da autoria de Jelle Visser.

No preâmbulo do documento, da autoria de Maria Helena André extraí os seguintes dois trechos:

Os sindicatos têm enormes desafios pela frente. É difícil ser sindicalista nos dias de hoje. Assistimos a uma generalização das violações dos direitos sindicais. As mudanças tecnológicas e económicas afetam a natureza e o tipo de empregos e, consequentemente, o potencial de organização e representação tanto no Norte como no Sul Global.”

O debate da OIT sobre o Futuro do Trabalho é uma oportunidade extraordinária para construirmos o futuro que desejamos, colocando a dignidade dos trabalhadores no centro desse debate. Para tal, é crucial que existam sindicatos suficientemente fortes e representativos para desempenharem um papel ativo na formação do processo político e para assegurarem que as vozes dos trabalhadores sejam ouvidas.

Como diz Maria Helena André, É difícil ser sindicalista nos dias de hoje, e este estudo vem equacionar um futuro que obriga os sindicalistas a apetrecharem-se com o maior número de informação disponível e anteciparem as acções necessárias para uma melhor e maior defesa dos trabalhadores, não apenas na perspectiva corporativa dos que representam, mas numa abrangência global.

O estudo pode ser acedido também AQUI