GONÇALVES – O sindicalista das ilhas
Este é um título que pode levar a supor que a vida de um homem se pode enquadrar apenas numa única característica. Esqueçam o título. O Gonçalves foi mais que sindicalista. Se os que com ele privaram (mais do que eu) forem falando dos vários aspectos da sua vida seguramente que o Gonçalves se revelará como um todo em que o sindicalismo foi uma parte importante da sua vida, mas que em si mesmo, o não define.
É difícil precisar a data em que conheci o Gonçalves. Mas, já lá vão muitos anos. E muitos anos também vão desde que estive com ele. Neste momento, em que tento escrever algumas palavras que o definam só me vem à memória a forma afável como recebia os “continentais” que se deslocavam à sua ilha. E as muitas histórias que nos contava sobre a sua terra e sobre ele mesmo.
Um dia levou-nos (a mim e a outros membros da Direcção do SBSI) a comer uns peixes fritos característicos de uma zona da Madeira em que prevaleciam as pessoas com cabelos louros e olhos azuis. E a propósito contava-nos, rindo, histórias de Vikings e o contributo que deram para que a população ficasse loura e de olhos azuis. E fazia-o de tal forma que os louros e de olhos azuis se não sentiriam melindrados.
E muitas outras histórias (algumas muito pessoais) que aqui não divulgo porque fazê-lo seria ultrapassar um limite em que não me foi dada autorização para o quebrar. Mas, são histórias verdadeiras, vividas, que só valorizam o seu carácter.
Não menos importantes foram os seus esclarecimentos sobre a política local, a influência da igreja no condicionamento das mentalidades, o difícil enquadramento de um militante político de esquerda na região e o também a difícil readaptação social quando teve que regressar à Madeira depois de um longo período no continente.
As lutas sindicais e partidárias que travou terão contribuído para desenvolver ainda mais o espírito solidário que era parte integrante dele.
Com ele aprendi como era diferente o sindicalismo na Madeira comparativamente com o sindicalismo no continente. E o Gonçalves conseguiu, não obstante essa diferença, que os valores sindicais na ilha e no continente, não fossem divergentes, mas complementares.
Tenho pena de estar longe e não poder prestar-lhe uma última homenagem. Contudo, estas minhas poucas palavras, escritas com o coração, são, nas circunstâncias, a manifestação do desejo de manter viva a memória do Gonçalves. Porque (perdoem-me o lugar comum) ninguém verdadeiramente morre enquanto for falado e recordado.
Estou triste...
Sem comentários:
Enviar um comentário