terça-feira, 28 de abril de 2020

OS BANCÁRIOS DO SÉCULO XX (O nascimento da “geringonça”)






OS BANCÁRIOS DO SÉCULO XX
(O nascimento da “geringonça”)


Estava frio. Muito frio.

Esta é uma das sensações que ainda hoje recordo daqueles dias de Fevereiro, do já longínquo ano de 1988, em que estive na Cidade dos Arcebispos. Estava mesmo muito frio.

Num Pavilhão, situado em Braga, encontravam-se cerca de 1400 sindicalistas que ali se tinham deslocado para participarem, nos dias 4, 5, 6 e 7, no IV Congresso Nacional da UGT. Um Congresso que alterou significativamente o status quo no Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, que terá contribuído para a Unidade na Acção com a CGTP-IN e que evidenciou a divisão entre os sociais democratas.

Os delegados ao Congresso estavam assim distribuídos:

Socialistas (TSS) – 800 delegados;
Sociais Democratas (TSD) – 300 delegados;
Sociais Democratas (ASIRESD) – 150 delegados;
Comunistas (Listas Unitárias) – 70 delegados;
Democratas Cristãos (CDS) – 50 delegados.

Como se constata a Tendência Sindical Socialista tinha, portanto, uma maioria confortável. Já os sociais democratas encontravam-se divididos por duas lideranças: a de Arménio Santos (na altura Presidente da Direcção do SBSI) e a de José Veludo (ASIRESD).

Na época era Primeiro Ministro Cavaco Silva que se preparava para aprovar um Pacote Laboral lesivo dos interesses dos trabalhadores e facilitador dos despedimentos. Em finais de Janeiro (menos de meia dúzia de dias antes do Congresso) Torres Couto (Secretário Geral da UGT) repudiava aquele Pacote Laboral numa extensa entrevista concedida em 31 de Janeiro a “O Bancário”. No próprio Congresso, antecipando as posições da Central afirmou: “Vamos exigir e lutar para negociar estas propostas. Se o Governo tiver uma postura arrogante ou minimizar as nossas propostas a coesão social estará irremediavelmente comprometida bem como o desenvolvimento de Portugal”.

A divisão que existia e era mais patente entre os próprios sociais democratas passou, também de forma clara, para o seio da UGT, pois os TSDs, liderados por Arménio Santos, pareciam ter relutância em apoiar a política laboral da UGT, vindo posteriormente a desvincular-se da Greve que, nos finais de Fevereiro, a UGT marcou para 28 de Março.

A Greve Geral de 28 de Março tornou claro que a Unidade na Acção com a CGTP-IN era possível, pois esta Central Sindical também fez coincidir a marcação da greve para a mesma data.

As “lutas intestinas” na UGT estavam, também, a reflectir-se na política de alianças existente no SBSI. Aliás, Socialistas e comunistas vinham, secretamente, entabulando conversações com vista a uma hipotética candidatura conjunta aos Corpos Gerentes do SBSI. No decorrer do Congresso da UGT nem o frio que se fazia sentir suspendeu as negociações entre comunistas e socialistas e que se intensificaram a tal ponto que ali nasceu um acordo de princípio que culminou, a 9 de Maio de 1988, com a tomada de posse de uma lista candidata aos Corpos Gerentes constituída pela Tendência Sindical Socialista e pelas Listas Unitárias.

Em Braga estava frio. Muito frio. Mas, mesmo assim, esse frio não impediu que se construísse uma alternativa sindical nos bancários do sul e ilhas que deu início às profundas transformações que ao longo de 12 anos esta impensável coligação concretizou. Uma alternativa que aqueceu os corações dos que por ela lutaram e venceram.

Nesses dias frios, nos bastidores do IV Congresso da UGT, nasceu a  geringonça” dos bancários.


As fotos que se seguem recordam um pouco aqueles dias muito frios



IV Congresso da UGT (4 a 7 de Fevereiro de 1988)




IV Congresso da UGT - Listas Unitárias SBSI (LU)




IV Congresso da UGT – Alexandrino Saldanha (LU)




IV Congresso da UGT
 Conferência de Imprensa das Listas Unitárias





Tomada de posse dos Corpos Gerentes do SBSI
- Tendência Sindical Socialista e Listas Unitárias -
(09 de Maio de 1988) - Barbosa de Oliveira



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