OS
BANCÁRIOS DO SÉCULO XX
(O
nascimento da “geringonça”)
Estava
frio. Muito frio.
Esta
é uma das sensações
que ainda hoje recordo
daqueles dias de Fevereiro, do já longínquo ano de 1988, em
que estive
na Cidade dos Arcebispos. Estava
mesmo muito
frio.
Num
Pavilhão, situado em Braga, encontravam-se cerca de 1400
sindicalistas que ali se tinham deslocado para participarem, nos dias
4, 5, 6 e 7, no IV Congresso Nacional da UGT. Um Congresso que
alterou significativamente o status
quo
no Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas,
que
terá
contribuído
para a Unidade
na Acção com a CGTP-IN
e
que evidenciou
a divisão
entre os sociais democratas.
Os
delegados ao Congresso estavam assim distribuídos:
Socialistas
(TSS) – 800 delegados;
Sociais
Democratas (TSD) – 300 delegados;
Sociais
Democratas (ASIRESD) – 150 delegados;
Comunistas
(Listas Unitárias) – 70 delegados;
Democratas
Cristãos (CDS) – 50 delegados.
Como
se constata a Tendência Sindical Socialista tinha, portanto,
uma
maioria
confortável.
Já os sociais democratas encontravam-se divididos por duas
lideranças: a
de Arménio
Santos (na altura Presidente da Direcção do SBSI) e a
de José
Veludo (ASIRESD).
Na
época
era Primeiro Ministro Cavaco Silva que se preparava
para aprovar um Pacote Laboral lesivo dos interesses dos
trabalhadores e
facilitador dos despedimentos.
Em finais de Janeiro (menos de meia dúzia de dias antes do
Congresso) Torres Couto (Secretário Geral da UGT) repudiava aquele
Pacote
Laboral numa extensa entrevista concedida em
31 de Janeiro a
“O Bancário”. No
próprio Congresso, antecipando
as posições da Central afirmou:
“Vamos
exigir e lutar para negociar estas propostas. Se o Governo tiver uma
postura arrogante ou minimizar as nossas propostas a coesão social
estará irremediavelmente comprometida bem como o desenvolvimento de
Portugal”.
A
divisão que
existia
e era
mais
patente
entre os próprios
sociais
democratas passou, também de forma clara, para o seio da UGT, pois
os TSDs, liderados por Arménio Santos, pareciam
ter
relutância em
apoiar a política laboral da UGT, vindo
posteriormente
a
desvincular-se da
Greve que, nos finais de Fevereiro, a UGT marcou para 28 de Março.
A
Greve
Geral
de
28 de Março tornou
claro
que a Unidade
na Acção
com
a CGTP-IN era
possível, pois
esta
Central Sindical também
fez
coincidir
a marcação da greve para a mesma data.
As
“lutas intestinas” na UGT estavam, também, a reflectir-se na
política de alianças existente no SBSI. Aliás,
Socialistas
e comunistas já
vinham,
secretamente, entabulando conversações com vista a uma hipotética
candidatura conjunta aos
Corpos Gerentes do SBSI. No decorrer do Congresso da UGT nem
o frio que se fazia sentir suspendeu
as negociações entre
comunistas e socialistas e
que se
intensificaram
a
tal ponto que ali
nasceu
um acordo de princípio que culminou, a 9 de Maio de 1988, com a
tomada de posse de uma lista candidata
aos Corpos Gerentes constituída
pela Tendência Sindical Socialista e pelas Listas Unitárias.
Em
Braga estava frio. Muito frio. Mas, mesmo assim, esse frio não
impediu que se construísse uma alternativa sindical nos bancários do
sul e ilhas que deu início às
profundas transformações que
ao longo de 12 anos esta impensável coligação concretizou.
Uma alternativa que aqueceu os corações dos
que por ela lutaram e venceram.
Nesses
dias frios, nos bastidores do IV Congresso da UGT, nasceu a geringonça”
dos bancários.
As
fotos que se seguem recordam
um pouco aqueles dias muito frios
IV
Congresso da UGT (4 a 7 de Fevereiro de 1988)
IV
Congresso da UGT - Listas Unitárias SBSI (LU)
IV
Congresso da UGT – Alexandrino
Saldanha (LU)
IV
Congresso da UGT
Conferência de Imprensa das Listas Unitárias
Tomada
de posse dos Corpos Gerentes do SBSI
- Tendência Sindical Socialista e Listas Unitárias -
(09
de Maio de 1988) - Barbosa de Oliveira
Era tempo de se fazer nova "Geringonça"
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