MUDAR?
O que é?
O
MUDAR leva a efeito, no próximo dia 15 de Junho, em Setúbal,
a XXIV Reunião Plenária.
O
Que é o MUDAR?, interrogar-se-ão muitos. Se alguém apenas
responder que MUDAR é a sigla a que corresponde a denominação
Movimento de Unidade,
Democracia e Acção
Reivindicativa, a dúvida
persistirá.
SINDICALISMO
CORPORATIVO
A
identificação do MUDAR passa, também, por abordar a história do
sindicalismo corporativo que, segundo José
Pedro Castanheira no seu livro “Os
Sindicatos e o Salazarismo”, “nasce
com a ascensão do ditador
(Salazar)
à
presidência do Conselho e morre com a fatídica “queda da
cadeira”.
Logo
após a Revolução dos Cravos (25 de Abril de 1974) o sindicalismo
corporativo, que tem no Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas
(SBSI)
um exemplar protagonista, extingue-se
completamente. Para isso terão contribuído, logo após a “queda
da cadeira”,
a
luta de muitos bancários, de que me permito realçar Ferreira Guedes
e Daniel cabrita.
SINDICALISMO
UNITÁRIO
O
Sindicato dos Empregados Bancários do Distrito de Lisboa, antecessor
do SBSI, é coo-fundador
a
1 de Outubro de 1970 da
Intersindical Nacional, antecessora
da CGTP-IN. O SBSI mantém-se no sindicalismo unitário até 29 de
Outubro de 1978, data da constituição da UGT, afirmando-se, então,
como defensora e protagonista do chamado sindicalismo democrático.
SINDICALISMO
DEMOCRÁTICO
Com
a institucionalização do sindicalismo democrático no SBSI mais de
1/3 dos bancários que se não reviam neste tipo de acção sindical
sentem-se marginalizados e desconfiam dos novos dirigentes. Também
devido a essa circunstância surgem no SBSI as Listas Unitárias,
integrando, essencialmente, membros do Partido Comunista Português
(PCP). Aproveitando o
Direito de Tendência, que
estava
estatutariamente consignado, concorrem a diversos actos eleitorais,
obtendo altíssimas
percentagens de votos e quase alcançando, uma
das vezes, uma tangencial
vitória (menos uns 100 votos) sobre os TSS
(Tendência Sindical Socialista) e os TSD
(Tendência Social Democrática) que concorriam juntos para os órgãos
sindicais do SBSI.
O
APOGEU DAS LISTAS UNITÁRIAS
As
Listas Unitárias foram
indiscutivelmente uma
força real no seio do SBSI e, por força dos Estatutos, concorreram
e ganharam
relevo e protagonismo nos Congressos e Conselhos Gerais da UGT para
grande incómodo
político-sindical dos
dirigentes da Central.
Em
1988 a coligação TSS / TSD nos
Corpos Gerentes do SBSI
termina (não interessa
agora saber porquê) e a
Tendência Sindical
Socialista alia-se
às Listas Unitárias numa “união de facto” que durou, embora
com alguns contratempos no
último mandato, 12 anos.
UMA
POLÍTICA SINDICAL COM E PARA OS TRABALHADORES
Foi
no decorrer desses 12 anos que a aproximação de facto aos
trabalhadores, com reuniões nos locais de trabalho, em toda a área
do Sindicato, se concretizou através da acção sindical denominada
“Jornadas Sindicais”.
Foi também nesse período que
se inaugurou
o Hospital, a Casa de Repouso em Azeitão, o
Centro de Férias em Ferreira
do Zêzere
e inúmeras Delegações Sindicais e de Saúde, além
da modernização do Parque de Campismo. Ficou ainda em franco
progresso as obras das actuais instalações do Centro Clínico de
Lisboa, cuja inauguração teve lugar no mandato seguinte.
REGRESSO
AO PARTIDARISMO EXACERBADO
O
ano 2000, celebrado em todo o mundo pelo simbolismo que representava
a entrada no século XXI, veio trazer uma nova realidade ao panorama
político-sindical
dos bancários. Em 1 de Março de 2000, perante uma situação que
não desejavam e que não conseguiam reverter, 5 dirigentes sindicais
expressaram num comunicado dirigido aos sócios do SBSI o que
pensavam sobre as duas Listas que se iam apresentar às eleições:
“PS
com PSD e ex.MRPP,
num preocupante regresso a modelos anteriores, recuperando as gastas
e as fracas práticas sindicais conhecidas e integrando muitos
reformados”
“PCP
que se diz acompanhado de um Bloquista e dois independentes e dois
jovens (em lugares de poder reduzido!) mas, na generalidade, todos
desconhecidos, no que é uma lista sem continuidade – não de
renovação (80% não tem experiência sindical alguma, nem nas
empresas ou regionais! - lista de mãos limpas, pois, que a
experiência sindical não as sujou!)”.
Esta última consideração – Lista
de mãos limpas – é
uma alusão clara ao texto do “Avante” N.º 1366 (ver AQUI).
Efectivamente,
no SBSI, vivia-se um projecto de unidade alargada, de futuro, que
valia a pena e que foi interrompido porque o PS se voltou
a aliar
ao PSD para não deixar morrer uma UGT moribunda, de cúpula, sem
organização sindical real, sem apoios na base, artificial e
institucionalmente suportada. Uma UGT sempre ausente (como
ainda
hoje), face aos problemas e interesses dos bancários.
E
o Comunicado a que nos estamos a referir termina de uma forma
premonitória:
“A
mudança necessária já está a construir-se. E é com cada um dos
Bancários a empenhar-se na defesa dos seus interesses, jovens ou
mais idosos, juntando vontades, engrossando a reflexão, à procura
de novos trilhos, tomando o Sindicato – o nosso Sindicato – nas
suas mãos, que se constrói o futuro!”
A
NECESSIDADE DE MUDAR
Dois
anos depois, a 23 de Janeiro de 2002, os mesmos 5, agora
ex-dirigentes sindicais, eram contundentes na apreciação que faziam
da Direcção PS/PSD/MRPP entretanto
eleita:
-
O
Acordo
de empresa negociado SECRETAMENTE com o Grupo BCP retirava direitos e
o acordo SAMS/MEDIS e
conferia
mais direitos a alguns à custa dos restantes;
-
A
Gestão
dos SAMS era
insegura e
havia
incapacidade
em
unir os 3 sindicatos do Sector pelo
que avançaram
(para disfarçar essa incapacidade)
com a constituição de uma Federação, evitando,
assim, ferir
interesses instalados.
Já
no
Conselho Geral do
SBSI de
12 de Novembro de 2002 um dos Conselheiros revolta-se contra a
criação de sócios de 1ª, 2ª e 3ª classe por parte também dos
dirigentes do SBSI, pelo
que perguntava se
“os
sócios de uma organização, que têm as mesmas obrigações e pagam
a mesma “coisa” não têm que ter os mesmos direitos?”
e
defendeu abertamente a constituição de um movimento que unisse
os Bancários “...sem
exclusões e o mais abrangente possível, por forma que os Bancários
se
sintam verdadeiramente representados e com colegas capazes de
defenderem os seus legítimos interesses”
A
28 de Novembro de 2002, um grupo de Delegados Sindicais e membros de
Comissões de Trabalhadores promoveram um debate convívio na
Biblioteca – Museu da
República
e Resistência e assumiram a construção de “...um
sindicalismo de base, participativo, um sindicalismo com
princípios...”
e que seja “Intransigente
defensor dos interesses dos Bancários, combatendo todas as políticas
que prejudiquem a classe, independentemente do Governo ou dos
banqueiros que as queiram implementar”
E
ASSIM
NASCEU
O MUDAR
Alguns
activistas sindicais preocupados, cada vez mais, com o rumo que o
SBSI tomava e com a possibilidade de o PCP vir a apoiar a
constituição de um outro sindicato para o sector (o
que veio a acontecer),
o que levaria à extinção da corrente sindical “Listas Unitárias”
(o
que veio a acontecer),
deixando os bancários sem alternativa, começaram a desenvolver
contactos para
a constituição de um movimento sindical que aceitasse
“...todos
os trabalhadores que a ele queiram aderir, sejam eles apartidários
ou simpatizantes, filiados e militantes de partidos políticos”,
criando
“A
envolvência de trabalhadores num processo de participação dinâmica
e activa e de unidade reivindicativa na acção”.
Todas
estas e outras dinâmicas estiveram
na origem, a 13 de Janeiro de 2003, do nascimento
do
MUDAR – Movimento
de Unidade,
Democracia
e Acção
Reivindicativa
– com
a divulgação pública de
um Manifesto, subscrito por cerca de uma centena de trabalhadores
bancários oriundos dos mais diversos sectores partidários e
apartidários, políticos, sociais e geográficos.
Dezassete
dias depois, no
dia 30 de Janeiro de 2003, em Lisboa, no Auditório do Grupo
Desportivo do BES, realizou-se o Encontro da Apresentação do MUDAR
e dos seus Princípios Gerais, seguido de debate
e a que assistiram umas dezenas de bancários. No
dia seguinte, o Jornal “A Capital”, dedica ¾ de uma página ao
MUDAR com o título “Movimento
de ruptura surge no seio do Sindicato e promete mudanças de fundo –
Para
acabar de vez com estratégias político-partidárias”
MUDAR:
A ALTERNATIVA NECESSÁRIA E CREDÍVEL
Terão
aquela centena de activistas sindicais, ao criar o MUDAR, contribuído
para alterar para melhor o rumo do SBSI? Pessoalmente quero acreditar
que sim. Com
a extinção das Listas Unitárias na banca, a partir de 2005, que
coincidiu com a criação do SINTAF – Sindicato dos trabalhadores
da Actividade Financeira, a
existência do MUDAR tem permitido aos Bancários terem uma
alternativa e obrigado as Direcções PS/PSD do SBSI a
serem
mais contidas nas cedências que fazem ao patronato.
E
a
história do MUDAR dos últimos 16 anos? Se entretanto ninguém a
escrever… talvez noutra ocasião.
Com
todos os erros que possam ser apontados ao MUDAR a verdade é que,
quer se queira, quer não, são a única força político-sindical
que pode constituir uma alternativa credível ao bloco central que é
a aliança PS / PSD no Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas.
Também por isso, e até
mesmo
que só por isso, as deliberações que forem tomadas na XXIV
Reunião Plenária do
Movimento
de Unidade,
Democracia
e Acção
Reivindicativa,
que vai ter lugar no próximo dia 15 de Junho, em Setúbal, assumem
uma importância decisiva.
Acompanhei e fiz parte do MUDAR desde a sua fundação até à minha reforma em 31 de Dezembro de 2012. Foi uma honra participar e tenho muito orgulho em ter acompanhado e colaborado com os seus lideres - o Faguntes, o Pascoal, o Grosso, a Elizabete, o Franco, a Fernanda, o Horácio, o Braz, a Sandra, e todos os que o se juntaram naquele caminho de defesa dos direitos dos trabalhadores. Os ataques dos TS/TSD sempre foram constantes, mas a razão e o anti-partidarismo sempre prevaleceram e sempre nos deram vitórias. Aqui fica o meu agradecimento ao MUDAR e o desejo que continue com a mesma força e objetivo que levaram à sua constituição.
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