terça-feira, 11 de junho de 2019

MUDAR? O que é?




MUDAR? O que é?

O MUDAR leva a efeito, no próximo dia 15 de Junho, em Setúbal, a XXIV Reunião Plenária.

O Que é o MUDAR?, interrogar-se-ão muitos. Se alguém apenas responder que MUDAR é a sigla a que corresponde a denominação Movimento de Unidade, Democracia e Acção Reivindicativa, a dúvida persistirá.


SINDICALISMO CORPORATIVO

A identificação do MUDAR passa, também, por abordar a história do sindicalismo corporativo que, segundo José Pedro Castanheira no seu livro Os Sindicatos e o Salazarismo”, nasce com a ascensão do ditador (Salazar) à presidência do Conselho e morre com a fatídica “queda da cadeira”.

Logo após a Revolução dos Cravos (25 de Abril de 1974) o sindicalismo corporativo, que tem no Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI) um exemplar protagonista, extingue-se completamente. Para isso terão contribuído, logo após a queda da cadeira”, a luta de muitos bancários, de que me permito realçar Ferreira Guedes e Daniel cabrita.


SINDICALISMO UNITÁRIO

O Sindicato dos Empregados Bancários do Distrito de Lisboa, antecessor do SBSI, é coo-fundador a 1 de Outubro de 1970 da Intersindical Nacional, antecessora da CGTP-IN. O SBSI mantém-se no sindicalismo unitário até 29 de Outubro de 1978, data da constituição da UGT, afirmando-se, então, como defensora e protagonista do chamado sindicalismo democrático.


SINDICALISMO DEMOCRÁTICO

Com a institucionalização do sindicalismo democrático no SBSI mais de 1/3 dos bancários que se não reviam neste tipo de acção sindical sentem-se marginalizados e desconfiam dos novos dirigentes. Também devido a essa circunstância surgem no SBSI as Listas Unitárias, integrando, essencialmente, membros do Partido Comunista Português (PCP). Aproveitando o Direito de Tendência, que estava estatutariamente consignado, concorrem a diversos actos eleitorais, obtendo altíssimas percentagens de votos e quase alcançando, uma das vezes, uma tangencial vitória (menos uns 100 votos) sobre os TSS (Tendência Sindical Socialista) e os TSD (Tendência Social Democrática) que concorriam juntos para os órgãos sindicais do SBSI.



O APOGEU DAS LISTAS UNITÁRIAS

As Listas Unitárias foram indiscutivelmente uma força real no seio do SBSI e, por força dos Estatutos, concorreram e ganharam relevo e protagonismo nos Congressos e Conselhos Gerais da UGT para grande incómodo político-sindical dos dirigentes da Central.

Em 1988 a coligação TSS / TSD nos Corpos Gerentes do SBSI termina (não interessa agora saber porquê) e a Tendência Sindical Socialista alia-se às Listas Unitárias numa “união de facto” que durou, embora com alguns contratempos no último mandato, 12 anos.


UMA POLÍTICA SINDICAL COM E PARA OS TRABALHADORES

Foi no decorrer desses 12 anos que a aproximação de facto aos trabalhadores, com reuniões nos locais de trabalho, em toda a área do Sindicato, se concretizou através da acção sindical denominada “Jornadas Sindicais”. Foi também nesse período que se inaugurou o Hospital, a Casa de Repouso em Azeitão, o Centro de Férias em Ferreira do Zêzere e inúmeras Delegações Sindicais e de Saúde, além da modernização do Parque de Campismo. Ficou ainda em franco progresso as obras das actuais instalações do Centro Clínico de Lisboa, cuja inauguração teve lugar no mandato seguinte.


REGRESSO AO PARTIDARISMO EXACERBADO

O ano 2000, celebrado em todo o mundo pelo simbolismo que representava a entrada no século XXI, veio trazer uma nova realidade ao panorama político-sindical dos bancários. Em 1 de Março de 2000, perante uma situação que não desejavam e que não conseguiam reverter, 5 dirigentes sindicais expressaram num comunicado dirigido aos sócios do SBSI o que pensavam sobre as duas Listas que se iam apresentar às eleições:

PS com PSD e ex.MRPP, num preocupante regresso a modelos anteriores, recuperando as gastas e as fracas práticas sindicais conhecidas e integrando muitos reformados

PCP que se diz acompanhado de um Bloquista e dois independentes e dois jovens (em lugares de poder reduzido!) mas, na generalidade, todos desconhecidos, no que é uma lista sem continuidade – não de renovação (80% não tem experiência sindical alguma, nem nas empresas ou regionais! - lista de mãos limpas, pois, que a experiência sindical não as sujou!)”. Esta última consideração – Lista de mãos limpas – é uma alusão clara ao texto do “Avante” N.º 1366 (ver AQUI).

Efectivamente, no SBSI, vivia-se um projecto de unidade alargada, de futuro, que valia a pena e que foi interrompido porque o PS se voltou a aliar ao PSD para não deixar morrer uma UGT moribunda, de cúpula, sem organização sindical real, sem apoios na base, artificial e institucionalmente suportada. Uma UGT sempre ausente (como ainda hoje), face aos problemas e interesses dos bancários.

E o Comunicado a que nos estamos a referir termina de uma forma premonitória:

A mudança necessária já está a construir-se. E é com cada um dos Bancários a empenhar-se na defesa dos seus interesses, jovens ou mais idosos, juntando vontades, engrossando a reflexão, à procura de novos trilhos, tomando o Sindicato – o nosso Sindicato – nas suas mãos, que se constrói o futuro!


A NECESSIDADE DE MUDAR

Dois anos depois, a 23 de Janeiro de 2002, os mesmos 5, agora ex-dirigentes sindicais, eram contundentes na apreciação que faziam da Direcção PS/PSD/MRPP entretanto eleita:

- O Acordo de empresa negociado SECRETAMENTE com o Grupo BCP retirava direitos e o acordo SAMS/MEDIS e conferia mais direitos a alguns à custa dos restantes;

- A Gestão dos SAMS era insegura e havia incapacidade em unir os 3 sindicatos do Sector pelo que avançaram (para disfarçar essa incapacidade) com a constituição de uma Federação, evitando, assim, ferir interesses instalados.

Já no Conselho Geral do SBSI de 12 de Novembro de 2002 um dos Conselheiros revolta-se contra a criação de sócios de 1ª, 2ª e 3ª classe por parte também dos dirigentes do SBSI, pelo que perguntava seos sócios de uma organização, que têm as mesmas obrigações e pagam a mesma “coisa” não têm que ter os mesmos direitos?e defendeu abertamente a constituição de um movimento que unisse os Bancários “...sem exclusões e o mais abrangente possível, por forma que os Bancários se sintam verdadeiramente representados e com colegas capazes de defenderem os seus legítimos interesses

A 28 de Novembro de 2002, um grupo de Delegados Sindicais e membros de Comissões de Trabalhadores promoveram um debate convívio na Biblioteca – Museu da República e Resistência e assumiram a construção de “...um sindicalismo de base, participativo, um sindicalismo com princípios...” e que seja “Intransigente defensor dos interesses dos Bancários, combatendo todas as políticas que prejudiquem a classe, independentemente do Governo ou dos banqueiros que as queiram implementar


E ASSIM NASCEU O MUDAR

Alguns activistas sindicais preocupados, cada vez mais, com o rumo que o SBSI tomava e com a possibilidade de o PCP vir a apoiar a constituição de um outro sindicato para o sector (o que veio a acontecer), o que levaria à extinção da corrente sindical “Listas Unitárias” (o que veio a acontecer), deixando os bancários sem alternativa, começaram a desenvolver contactos para a constituição de um movimento sindical que aceitasse “...todos os trabalhadores que a ele queiram aderir, sejam eles apartidários ou simpatizantes, filiados e militantes de partidos políticos”, criandoA envolvência de trabalhadores num processo de participação dinâmica e activa e de unidade reivindicativa na acção”.

Todas estas e outras dinâmicas estiveram na origem, a 13 de Janeiro de 2003, do nascimento do MUDAR – Movimento de Unidade, Democracia e Acção Reivindicativa – com a divulgação pública de um Manifesto, subscrito por cerca de uma centena de trabalhadores bancários oriundos dos mais diversos sectores partidários e apartidários, políticos, sociais e geográficos.

Dezassete dias depois, no dia 30 de Janeiro de 2003, em Lisboa, no Auditório do Grupo Desportivo do BES, realizou-se o Encontro da Apresentação do MUDAR e dos seus Princípios Gerais, seguido de debate e a que assistiram umas dezenas de bancários. No dia seguinte, o Jornal “A Capital”, dedica ¾ de uma página ao MUDAR com o título “Movimento de ruptura surge no seio do Sindicato e promete mudanças de fundo – Para acabar de vez com estratégias político-partidárias


MUDAR: A ALTERNATIVA NECESSÁRIA E CREDÍVEL

Terão aquela centena de activistas sindicais, ao criar o MUDAR, contribuído para alterar para melhor o rumo do SBSI? Pessoalmente quero acreditar que sim. Com a extinção das Listas Unitárias na banca, a partir de 2005, que coincidiu com a criação do SINTAF – Sindicato dos trabalhadores da Actividade Financeira, a existência do MUDAR tem permitido aos Bancários terem uma alternativa e obrigado as Direcções PS/PSD do SBSI a serem mais contidas nas cedências que fazem ao patronato.

E a história do MUDAR dos últimos 16 anos? Se entretanto ninguém a escrever… talvez noutra ocasião.

Com todos os erros que possam ser apontados ao MUDAR a verdade é que, quer se queira, quer não, são a única força político-sindical que pode constituir uma alternativa credível ao bloco central que é a aliança PS / PSD no Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas. Também por isso, e até mesmo que só por isso, as deliberações que forem tomadas na XXIV Reunião Plenária do Movimento de Unidade, Democracia e Acção Reivindicativa, que vai ter lugar no próximo dia 15 de Junho, em Setúbal, assumem uma importância decisiva.



1 comentário:

  1. Acompanhei e fiz parte do MUDAR desde a sua fundação até à minha reforma em 31 de Dezembro de 2012. Foi uma honra participar e tenho muito orgulho em ter acompanhado e colaborado com os seus lideres - o Faguntes, o Pascoal, o Grosso, a Elizabete, o Franco, a Fernanda, o Horácio, o Braz, a Sandra, e todos os que o se juntaram naquele caminho de defesa dos direitos dos trabalhadores. Os ataques dos TS/TSD sempre foram constantes, mas a razão e o anti-partidarismo sempre prevaleceram e sempre nos deram vitórias. Aqui fica o meu agradecimento ao MUDAR e o desejo que continue com a mesma força e objetivo que levaram à sua constituição.

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