quinta-feira, 6 de junho de 2019

Salazar Sindicalista

Imagem obtida em The Catholic Counter-Reformation in the 21 Century





Salazar Sindicalista

O título deste texto é intencionalmente provocatório. Contudo, é apenas isso, pois não pretende ser ofensivo estabelecendo alguma, mesmo que ténue, semelhança política com o ditador.

O objectivo do título é também incentivar ao conhecimento do que foram os sindicatos ao tempo do Estado Novo, para o que o livro “Os Sindicatos e o Salazarismo” (A história dos bancários do sul e ilhas – 1910-1969) escrito por José Pedro Castanheira e editado pelo Sindicato dos Bancários do Sul Ilhas em 1983, também deu um forte contributo.

O essencial da história do sindicalismo português no último meio século passa pela classe bancária, e designadamente pelo Sindicato dos bancários do Sul e Ilhas” (SBSI), pode ler-se na capa posterior do livro, livro que constitui um importante documento para a história do sindicalismo corporativo que, “nasce com a ascensão do ditador à presidência do Conselho e morre com a fatídica “queda da cadeira”.

Voltemos, porém, ao cerne deste título transcrevendo a Acta n.º 17 da sessão da Assembleia Geral do Sindicato dos Bancários do Distrito de Lisboa, antecessor do SBSI, que se realizou em Lisboa a 27 de Julho de 1942:


SALAZAR ELEITO SÓCIO HONORÁRIO
  
No dia vinte e sete de Julho de mil novecentos e quarenta e  dois, na sede social – rua da boa vista número cinquenta e dois primeiro andar, reuniu pelas vinte e uma horas e quarenta e cinco minutos em segunda convocatória a Assembleia Geral do Sindicato Nacional dos Empregados Bancários do Distrito de Lisboa. Presidiu o sócio senhor Eurico Ferreira Cabecinha e secretariaram os sócios João António Conde Ribeiro e Mário Luíz Nobre.

Aberta a sessão o segundo secretário leu a acta que posta a discussão e votação foi aprovada sem emendas. O sr. Presidente manda ler o aviso convocatório desta Assembleia Geral Extraordinária, e pede aos presentes que não sejam sócios o favor de se retirarem para o fundo da sala. Em seguida entra-se na Ordem da noite: Eleição por proposta da Direcção, como sócio honorário, do Exmº Sr. Dr. António Oliveira Salazar.

O presidente da Direcção usando da palavra justifica largamente a proposta apresentada e conclui: a classe tem um elevado nível mental e compreende a alta significação do acto simbólico que aqui vamos celebrar – Salazar tem sido um grande amigo dos trabalhadores, e nós outra coisa não somos que trabalhadores. O nosso Sindicato foi sempre na vanguarda, sempre o primeiro, e por isso julgo justificada a proposta. O Presidente como ninguém desejasse usar da palavra pede à assembleia que se manifeste sobre a proposta apresentada levantando-se todos os que aprovem e que se conservem sentados os que a rejeitem, todos se levantam e aplaudem largamente.

O Presidente da Assembleia em vista da aprovação da proposta por aclamação, convida o Presidente da direcção a agradecer o resultado da votação de sua proposta, dizendo que ele representando a Mesa se felicita com essa votação.

O Sr. Presidente agradece, e diz que vê nitidamente que ela estava no animo de todos os senhores associados.

Seguidamente foi lido um telegrama do sócio Lopes Conde dizendo: impossibilitado de comparecer, acompanho a Direcção sua proposta sócio honorário Salazar propondo votação por aclamação e requerendo prioridade esta proposta.

Antes de encerrar a sessão pede e usa da palavra o sócio 2824 senhor António O. Ferreira da Costa que pede algumas explicações da forma como vai ser creada a Caixa de Compensação Familiar. Respondendo-lhe na medida do possível o Presidente da Direcção.

Nada mais havendo a tratar, foi declarada pelo senhor Presidente, encerrada a sessão, eram vinte e três horas e dez minutos, lavrando-se a presente acta que vai ser por mim e pela Mesa devidamente assinada.
(Sublinhados da minha responsabilidade)

O número de sócios presentes na Assembleia é desconhecido.

Salazar não foi até hoje, que eu saiba, exonerado de sócio honorário do SBSI.


1 comentário:

  1. O Estatuto do Trabalho Nacional era a trave mestra do fascismo português. Contra ele se levantaram em 18 de janeiro de 1934 os trabalhadores de Silves e Coimbra derrotados de imediato. Apenas na Marinha Grande o movimento obteve sucesso tendo os operários tomado os Correios, a Câmara e a GNR. A repressão que se seguiu com a criação do Campo do Tarrafal. atrasou 40 anos o regresso à democracia. Pelos vistos, pelo meio, houve quem se sentisse satisfeito...

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