Imagem obtida em The
Catholic Counter-Reformation in the 21 Century
Salazar
Sindicalista
O
título deste texto é intencionalmente provocatório. Contudo, é
apenas isso, pois não pretende ser ofensivo estabelecendo alguma,
mesmo que ténue, semelhança política com o ditador.
O
objectivo do título é também incentivar ao conhecimento do que
foram os sindicatos ao tempo do Estado Novo, para o que o livro “Os
Sindicatos e o Salazarismo” (A história dos bancários do sul e
ilhas – 1910-1969) escrito por José Pedro Castanheira e editado
pelo Sindicato dos Bancários do Sul Ilhas em 1983, também deu um forte
contributo.
“O
essencial da história do sindicalismo português no último meio
século passa pela classe bancária, e designadamente pelo Sindicato
dos bancários do Sul e Ilhas” (SBSI), pode ler-se na capa
posterior do livro, livro que constitui um importante documento para
a história do sindicalismo corporativo que, “nasce com a ascensão
do ditador à presidência do Conselho e morre com a fatídica
“queda da cadeira”.
Voltemos,
porém, ao cerne deste título transcrevendo a Acta n.º 17 da sessão da Assembleia Geral do Sindicato
dos Bancários do Distrito de Lisboa, antecessor do SBSI, que se
realizou em Lisboa a 27 de Julho de 1942:
SALAZAR
ELEITO SÓCIO HONORÁRIO
“No
dia vinte e sete de Julho de mil novecentos e quarenta e dois, na sede
social – rua da boa vista número cinquenta e dois primeiro andar,
reuniu pelas vinte e uma horas e quarenta e cinco minutos em segunda
convocatória a Assembleia Geral do Sindicato Nacional dos Empregados
Bancários do Distrito de Lisboa. Presidiu o sócio senhor Eurico
Ferreira Cabecinha e secretariaram os sócios João António Conde
Ribeiro e Mário Luíz Nobre.
Aberta
a sessão o segundo secretário leu a acta que posta a discussão e
votação foi aprovada sem emendas. O sr. Presidente manda ler o
aviso convocatório desta Assembleia Geral Extraordinária, e pede
aos presentes que não sejam sócios o favor de se retirarem para o
fundo da sala. Em seguida entra-se na Ordem da noite: Eleição
por proposta da Direcção, como sócio honorário, do Exmº Sr. Dr.
António Oliveira Salazar.
O
presidente da Direcção usando da palavra justifica
largamente a proposta apresentada e conclui: a classe tem um
elevado nível mental e compreende a alta significação do acto
simbólico que aqui vamos celebrar – Salazar tem sido um grande
amigo dos trabalhadores, e nós outra coisa não somos que
trabalhadores. O nosso Sindicato foi sempre na vanguarda, sempre o
primeiro, e por isso julgo justificada a proposta. O
Presidente como ninguém desejasse usar da palavra pede à assembleia
que se manifeste sobre a proposta apresentada levantando-se todos os
que aprovem e que se conservem sentados os que a rejeitem, todos
se levantam e aplaudem largamente.
O
Presidente da Assembleia em vista da aprovação da proposta por
aclamação, convida o Presidente da direcção a agradecer o
resultado da votação de sua proposta, dizendo que ele representando
a Mesa se felicita com essa votação.
O
Sr. Presidente agradece, e diz que vê nitidamente que ela estava no
animo de todos os senhores associados.
Seguidamente
foi lido um telegrama do sócio Lopes Conde dizendo: impossibilitado
de comparecer, acompanho a Direcção sua proposta sócio honorário
Salazar propondo votação por aclamação e requerendo prioridade
esta proposta.
Antes
de encerrar a sessão pede e usa da palavra o sócio 2824 senhor
António O. Ferreira da Costa que pede algumas explicações da forma
como vai ser creada a Caixa de Compensação Familiar.
Respondendo-lhe na medida do possível o Presidente da Direcção.
Nada
mais havendo a tratar, foi declarada pelo senhor Presidente,
encerrada a sessão, eram vinte e três horas e dez minutos,
lavrando-se a presente acta que vai ser por mim e pela Mesa
devidamente assinada.”
(Sublinhados
da minha responsabilidade)
O
número de sócios presentes na Assembleia é desconhecido.
Salazar não foi até hoje, que eu saiba, exonerado de sócio
honorário do SBSI.
O Estatuto do Trabalho Nacional era a trave mestra do fascismo português. Contra ele se levantaram em 18 de janeiro de 1934 os trabalhadores de Silves e Coimbra derrotados de imediato. Apenas na Marinha Grande o movimento obteve sucesso tendo os operários tomado os Correios, a Câmara e a GNR. A repressão que se seguiu com a criação do Campo do Tarrafal. atrasou 40 anos o regresso à democracia. Pelos vistos, pelo meio, houve quem se sentisse satisfeito...
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