sexta-feira, 14 de junho de 2019

TRANSPARÊNCIA e NEPOTISMO

Imagem obtida em “Perfeitura de Piuma”


TRANSPARÊNCIA e NEPOTISMO


É necessário valorizar os trabalhadores
e valorizar a responsabilidade,
pois há pouca cultura de responsabilidade”.
(Manuel Carvalho da Silva
em “Revista Crítica de Ciências Sociais” - N.º 62)



Tenho para mim, numa interpretação (abusiva?) das palavras do ex-Coordenador da CGTP-IN, que a pouca cultura de responsabilidade também existe ao nível de alguns dirigentes sindicais. Cultura de responsabilidade a que não pode ser indiferente, por a complementar, uma cultura de transparência.

Vejamos:

As chamadas redes sociais (que de sociais têm pouco) estão pejadas de comentários acerca do nepotismo que dizem que grassa na sociedade portuguesa. Sobressaem, de entre os comentários, os que são feitos sobre um conhecido deputado e dirigente político a quem acusam de ter arranjado emprego para toda a família.

Tanto quanto se pode analisar não existirá, nessas situações, nada de ilegal. Contudo, digo eu que digo coisas, a não existência de uma ilegalidade não pode pressupor a não existência de uma injustiça. Também digo eu, e muito boa gente como eu, que ninguém pode ser prejudicado ou beneficiado pelo facto de ser familiar de um cidadão que até está em condições de proporcionar um emprego. Ou pelo facto de ser um ladrão. Ou um assassino. Enfim… um familiar não pode ser uma condicionante às aspirações de quem quer que seja e deve ser (esse alguém) tratado de forma isenta.

Talvez, numa outra sociedade, num outro tempo e até num outro mundo, o que afirmo no parágrafo anterior possa ser verdade. E são muitos poucos os que, podendo, não sejam... nepotistas. Não é, nem política, nem socialmente aceitável o nepotismo, mas é, reconheça-mo-lo, inerente à natureza humana proteger os que são do mesmo sangue, independentemente do mérito e mesmo que em prejuízo de terceiros.

O nepotismo é uma “praga” que afecta só os políticos? É uma evidência que não, pois é transversal a toda a sociedade, embora os políticos de carreira estejam mais sobre olhar dos cidadãos que, genericamente, os consideram todos iguais e maus. Diga-se, em abono da verdade que esta percepção não corresponde à verdade e é injusta, pois os políticos não são todos iguais. Tal como os trabalhadores por conta de outrem, os médicos, os pedreiros, os advogados, os canalizadores, os polícias, os sindicalistas… não são todos iguais!

A credibilização dos sindicalistas, segundo um inquérito que li algures no tempo, anda pelas ruas da amargura. Há que alterar este sentir, mas para isso é necessário, é imprescindível, TRANSPARÊNCIA.

TRANSPARÊNCIA EM QUÊ?

Comecemos pelo nepotismo. Os associados num sindicato escutam às vezes “rumores” que o dirigente A ou B empregou a mulher, a filha, a nora no sindicato. Estes “rumores” destroem a confiança na equipa dirigente o que leva (ou pode levar) ao abandono das actividades sindicais e, até, do sindicato. Impõe-se, por conseguinte, trazer para a praça pública, à luz do dia, os “rumores”. Ou para os confirmar ou para os extinguir porque não passam de “rumores” malévolos. Impõem-se uma responsável cultura de transparência.

A transparência e a verdade, pilares básicos de uma candidatura sindical, tem que obrigar ao compromisso de anualmente vir a ser divulgada a relação de trabalhadores em exercício nos sindicatos. Resolveria totalmente a situação? Não. Mas contribuiria, seguramente, para escrutinar a responsabilidade dos dirigentes sindicais e para, eventualmente, reduzir o nepotismo e, talvez ainda, influenciar os resultados de futuras eleições.

Mesmo que este não seja o melhor caminho para uma solução de combate ao nepotismo (se existir), só o facto de o não escamotearmos, vale a pena discuti-lo à luz do dia.



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