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obtida em “Perfeitura de Piuma”
TRANSPARÊNCIA
e NEPOTISMO
“É
necessário valorizar os trabalhadores
e
valorizar a responsabilidade,
pois
há pouca cultura de responsabilidade”.
(Manuel
Carvalho da Silva
em
“Revista Crítica de Ciências Sociais” - N.º 62)
Tenho
para mim, numa interpretação (abusiva?) das palavras do
ex-Coordenador da CGTP-IN, que a pouca cultura de responsabilidade
também existe ao nível de alguns dirigentes sindicais. Cultura de
responsabilidade a que não pode ser indiferente, por a complementar,
uma cultura de transparência.
Vejamos:
As
chamadas redes sociais (que de sociais têm pouco) estão pejadas de
comentários acerca do nepotismo que dizem que grassa na sociedade
portuguesa. Sobressaem, de entre os comentários, os que são feitos
sobre um conhecido deputado e dirigente político a quem acusam de
ter arranjado emprego para toda a família.
Tanto
quanto se pode analisar não existirá, nessas situações, nada de
ilegal. Contudo, digo eu que digo coisas, a não existência de uma
ilegalidade não pode pressupor a não existência de uma injustiça.
Também digo eu, e muito boa gente como eu, que ninguém pode ser
prejudicado ou beneficiado pelo facto de ser familiar de um cidadão
que até está em condições de proporcionar um emprego. Ou pelo
facto de ser um ladrão. Ou um assassino. Enfim… um familiar não
pode ser uma condicionante às aspirações de quem quer que seja e
deve ser (esse alguém) tratado de forma isenta.
Talvez,
numa outra sociedade, num outro tempo e até num outro mundo, o que
afirmo no parágrafo anterior possa ser verdade. E são muitos poucos
os que, podendo, não sejam... nepotistas. Não é, nem política,
nem socialmente aceitável o nepotismo, mas é, reconheça-mo-lo,
inerente à natureza humana proteger os que são do mesmo sangue,
independentemente do mérito e mesmo que em prejuízo de terceiros.
O
nepotismo é uma “praga” que afecta só os políticos? É uma
evidência que não, pois é transversal a toda a sociedade, embora
os políticos de carreira estejam mais sobre olhar dos cidadãos que,
genericamente, os consideram todos iguais e maus. Diga-se, em abono
da verdade que esta percepção não corresponde à verdade e é
injusta, pois os políticos não são todos iguais. Tal como os
trabalhadores por conta de outrem, os médicos, os pedreiros, os
advogados, os canalizadores, os polícias, os sindicalistas… não
são todos iguais!
A
credibilização dos sindicalistas, segundo um inquérito que li
algures no tempo, anda pelas ruas da amargura. Há que alterar este
sentir, mas para isso é necessário, é imprescindível,
TRANSPARÊNCIA.
TRANSPARÊNCIA
EM QUÊ?
Comecemos
pelo nepotismo. Os associados num sindicato escutam às vezes
“rumores” que o dirigente A ou B empregou a mulher, a filha, a
nora no sindicato. Estes “rumores” destroem a confiança na
equipa dirigente o que leva (ou pode levar) ao abandono das
actividades sindicais e, até, do sindicato. Impõe-se, por
conseguinte, trazer para a praça pública, à luz do dia, os
“rumores”. Ou para os confirmar ou para os extinguir porque não
passam de “rumores” malévolos. Impõem-se uma responsável
cultura de transparência.
A
transparência e a verdade, pilares básicos de uma candidatura
sindical, tem que obrigar ao compromisso de anualmente vir a ser
divulgada a relação de trabalhadores em exercício nos sindicatos.
Resolveria totalmente a situação? Não. Mas contribuiria,
seguramente, para escrutinar a responsabilidade dos dirigentes
sindicais e para, eventualmente, reduzir o nepotismo e, talvez ainda,
influenciar os resultados de futuras eleições.
Mesmo
que este não seja o melhor caminho para uma solução de combate ao
nepotismo (se existir), só o facto de o não escamotearmos, vale a
pena discuti-lo à luz do dia.
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